sábado, 9 de março de 2013

Hipnos e Morfeu



Deitados na cama ou até adormecidos num sofá , repetimos diariamente a experiência de morrer. Mas a morte de quem se reclina e se deixa voluntária e docemente prostrar, acredita que, de manhã, uma luz auroral lhe entrará pelo quarto e o fará acordar como quem ressuscita para a vida consentidamente interrompida.

O sorriso com que se entra nesse irmão da morte que é o sono, é traçado pela confiança de que a ressurreição é certa e trará consigo uma certa renovação da própria vida que por horas se interrompe.

Mais enigmático ainda é, por se saber que, muito provavelmente, se acorda de manhã, e, então, se regressa à vigilância, alguém se deitar tranquilamente apesar de ficar à total mercê de qualquer acto que possa aproveitar essa suspensão da atenção, da vigília e da guarda. Seres que vivem um terço do tempo da sua vida à mercê do que os possa submeter, tomar, raptar, matar, etc., conseguem, ainda assim, repousar a cabeça numa almofada e entregarem-se nos braços de Morfeu (sonho), filho de Hipnos (Sono).

Intrigante mistério este, de tanto procurarmos defesas, seguranças e garantias que nos preservem a vida e, em cada dia, repetida e previsivelmente, nos entregarmos, serenamente desprotegidos, no convívio  íntimo com o mais perigoso – o mal – e o mais trágico – a morte.

2 comentários:

  1. Bem visto; também às vezes penso nisso: será porque sem um mínimo de confiança e de entrega não conseguimos mesmo viver?
    Uma sensação de paz, de plenitude, enche-nos a alma quando vemos um bébé a dormir... Onde está o âmago do ser?

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  2. Que obra de arte é esta?

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